Skip to content

O MERCADO DO CEDRO AUSTRALIANO

Ricardo S. Vilela – diretor da Bela Vista Florestal

Ao falar em plantio florestal de madeira “nobre”, facilmente se identificam duas maneiras de ver o negócio; a cética e a otimista. Tentando trabalhar dentro da linha que separa as duas, a Bela Vista Florestal, uma das empresas pioneiras no setor, sempre foi cautelosa em suas projeções de produtividade da floresta e de preços de madeira, mas sempre teve certeza da aceitação por parte do mercado. Afinal, é conhecida a qualidade do produto. No caso, a madeira do cedro australiano (toona ciliata).

Nos primeiros 10 anos em que trabalhou com o cedro australiano, o foco da Bela Vista nunca foi o mercado, e sim o domínio da tecnologia de produção florestal. O cultivo das madeiras alternativas (cedro; mogno; guanandi; teca, e outras) é relativamente novo no Brasil e carente de informações sobre manejo, nutrição, pragas e doenças. Além de trabalhar com uma base genética sem diversidade e sem melhoramento. É por esse motivo que, desde 2006 a BV se dedica à pesquisa da espécie, baseada na importação de sementes da Austrália para ampliar a base genética, focando melhoramento genético e clonagem, e também manejo florestal.  Uma visita aos plantios da empresa, no município de Campo Belo, Minas Gerais, mostra que o esforço e o investimento estão valendo à pena.

Os plantios mais velhos da espécie, feitos com a semente comumente encontrada no mercado, apresentam produtividade até 15m3 de madeira por hectare/ano. Enquanto isso, os novos materiais genéticos desenvolvidos pela Bela Vista Florestal, apresentam produtividade até 37m3 por hectare/ano. Com esse novo patamar de produtividade e o conhecimento técnico de anos de prática e pesquisa, podemos falar em mais de 300 m3 por hectare aos  15 anos da floresta. A alta produtividade e segurança tecnológica alcançada permitiram que a empresa iniciasse plantios maiores em 2014, parte de um projeto muito mais ambicioso.

Tendo assegurado essa meta, foi possível para parte da equipe direcionar a atenção para a venda de madeira, a partir de 2013. Mesmo com uma pequena área plantada (70 hectares), naquela data os talhões mais velhos já estavam com 9 anos, e era necessário fazer o desbaste das árvores, gerando madeira para comercialização.

Como toda madeira tropical de alto valor originária de floresta plantada é novidade no país, o Cedro Australiano também teve que buscar seu lugar no mercado. A Bela Vista Florestal está hoje em fase avançada de prospecção desse mercado. Nesse processo, existem algumas características a serem levadas em conta que são óbvias, mas outras nem tanto.

O que todos sabem é que a madeira é estável, trabalhável, bonita, e deve ser destinada a produtos com maior valor agregado (PMVA). O que nem todo mundo sabe é como fazer isso.

Muito se fala em exportação e cotação de madeira no mercado internacional, como se fosse uma transação fácil de executar e que paga mais que o mercado interno, principalmente com o dólar acima de R$ 3,00. Ao tentar exportar, o produtor florestal irá se deparar com vários problemas. Alguns contornáveis, outros não. O resultado é a inviabilidade econômica do processo na maioria dos casos. Além da exigências de qualidade e rastreabilidade dos clientes internacionais, existem questões como a deficiência de nossa infra estrutura (rodoviária, ferroviária, alfandegária e portuária) que gera atrasos e consequentemente aumento de custos. Como quantidade de produção e escala, e a continuidade de fornecimento. Custa caro prospectar clientes no exterior e fechar um negócio, assim como todo o trâmite e transporte do produto.  E a cotação internacional da qual se fala, é referente ao preço CIF da madeira. Portanto, antes de pensar nos milhares de dólares de receita que gera um contêiner de madeira, é preciso pensar no custo do mesmo para o produtor. Como tudo em agricultura, a madeira tem seu canal próprio de exportação. E  isso não é uma coincidência, mas uma imposição de logística, custos e escala.

Por outro lado, o mercado brasileiro é enorme e é possível focar as vendas nele com sucesso. Apesar de uma crise econômica que ainda não mostrou toda a sua força, as perspectivas no longo prazo são encorajadoras; crescimento contínuo do consumo per capita de madeira sólida tropical, e a improbabilidade de conseguirmos suprir essa demanda com madeira de floresta plantada.

A competição com a madeira nativa não tira a viabilidade econômica do negócio. O cedro australiano tem produtividade e os plantios estão mais próximos dos centros consumidores. Com o tempo, devido às pressões ambientais, a tendência é que apenas a madeira nativa proveniente de manejo florestal legal permaneça no mercado. Processo que encarece ainda mais o produto do  concorrente.

A madeira de floresta nativa também é uma boa diretriz para procurar clientes. No caso do cedro australiano, pode-se vender a madeira para consumidores de cedro rosa brasileiro (cedrela fissilis). O uso para as duas espécies é muito parecido. Normalmente, a empresa que usa uma pode usar a outra, levando-se em conta que a madeira de nativa normalmente vem de plantas centenárias, o que não ocorre com florestas plantadas.

Mas como colocar essa madeira no mercado?

O que a Bela Vista está descobrindo, é que o mercado não quer matéria prima. Quer produtos. Em vez de vender toras de cedro, vale a pena trabalhar a madeira, por menos que seja. O mercado brasileiro de madeira serrada movimenta milhões de metros cúbicos por ano. Também existe procura pelo cedro australiano para laminação, esquadrias, acabamentos finos em construção civil; portas; janelas; molduras; forros; movelaria e outros. Fica a escolha entre trabalhar e agregar mais ou menos valor, e consequentemente ter mais o menos custos de produção.

A empresa montou a primeira serraria do país especializada em cedro australiano e produz madeira serrada e seca em estufa para um grupo seleto de clientes. Num primeiro momento houve breve resistência ao novo produto, fruto do desconhecimento. Essa foi uma barreira fácil de ser rompida através de estudos técnicos e amostras. O mercado está ávido por produtos de qualidade, de origem legal e sustentável, com padrão e continuidade de fornecimento. E paga por isso valores que remuneram decentemente a atividade. Fica cada vez mais claro que a aceitação pelo mercado da madeira do cedro australiano é tudo aquilo que foi previsto.

This Post Has 0 Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Back To Top