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OS RISCOS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS EM PLANTIOS DE ESPÉCIES NOBRES

Eduardo Stehling, Biólogo da Bela Vista Florestal.

Como nos acidentes de transito, os incêndios florestais também podem ser evitados através de ações de prevenção. Quando tudo é feito dentro da técnica, o risco é minimizado e não existem prejuízos. Entretanto está nem sempre é a realidade do silvicultor iniciante que opta por espécies exóticas para produção de madeira para serraria.

Este ano devido à seca, incêndios florestais e urbanos já ocorreram no mês de fevereiro. Em um ano atípico como este, a prevenção aos incêndios deve ser antecipada. A construção de aceiros, limpeza dos plantios e identificação das áreas vulneráveis nas propriedades deverá antecipar à lógica utilizada em anos de boa precipitação. A aquisição de pulverizadores para combate à incêndios, abafadores, equipamentos de proteção individual e a criação de um plano de ação também não deve ser esquecidos. O treinamento prévio através de palestras e aulas também é essencial na propriedade e junto aos vizinhos.

Feitos os devidos alertas, o ponto central deste texto tem que ser claro: “Em floresta não pode haver incêndio, independente da espécie”. Todos sabemos que o incêndios trazem danos à espécie cultivada e prejuízos ao produtor. É sabido que o fogo causa redução e atrasos na produção estimada, e em casos extremos, a mortalidade total das plantas de um estande. No solo, ele cria uma série de modificações físicas, químicas e biológicas. A redução da matéria orgânica e carbono, a eliminação da fauna e microbiota locais e o aumento do risco de erosões são talvez as mais importantes. Os incêndios também alteram a composição da vegetação local após sua ocorrência, por expor o banco de sementes do solo. Todo o ecossistema local é afetado.

Quando passamos a considerar incêndios florestais em plantios de espécies nobres, outros aspectos e desdobramentos devem ser levados em consideração. Por serem culturas de maior custo de implantação e onde se espera maior rentabilidade, os cuidados na prevenção de incêndios devem ser dobrados. Neste ponto cabe um alerta ao silvicultor iniciante, parcela expressiva deste segmento e que nem sempre está preparado para lidar com as adversidades do campo.

A falta de conhecimento sobre o comportamento das espécies exóticas com relação ao fogo também é preocupante dentro deste cenário. Não sabemos quais espécies são mais sensíveis ou resistentes ao fogo, por isso não se leva em conta usar determinada espécie considerando o risco real de incêndio de uma área.

A morfologia e a fisiologia da espécie tem papel fundamental no comportamento desta frente o fogo. A espessura da casca assim como as substâncias que a compõe são fundamentais na proteção da árvore, sendo diretamente influenciadas pela idade da planta. O bioma de origem e sua história evolutiva atuam como indicadores do comportamento de uma espécie à presença do fogo sugerindo a presença de resistência. A duração, a intensidade e a frequência do fogo também devem ser levadas em consideração. Muitas vezes a espécie tolera alguma chama pouco intensa e de curta duração em sua base, mas quando existe periodicidade, intensidade ou longa duração, grandes danos podem ocorrer.

Entre as causas mais comuns de mortalidade de árvores por incêndios estão a interrupção da seiva elaborada conduzida nos feixes do floema (presentes na casca) e a supressão de copa, seja por combustão, calor excessivo ou falta de seiva, em todos os casos interrompendo a fotossíntese.  Nos casos em que as plantas sobrevivem, as espécies que fazem associações com micro-organismos para melhorar o uso de nutrientes são muito afetadas devido à morte destes.

É muito comum a infestação das árvores afetadas pelo fogo por insetos broqueadores, sendo normalmente besouros (coleobrocas). Isto ocorre devido ao estimulo da fumaça e muitas vezes devido à emissão de sinais químicos pelas plantas afetadas, atraindo os broqueadores. Com a casca afetada, cerne e alburno expostos, a árvore é uma porta aberta para insetos e fungos de todos tipos. Muitas vezes dependendo da espécie, as árvores afetadas nunca se recuperam dos danos causados pelo fogo e acabam morrendo devido à ação de pragas e doenças.

Com o objetivo de exemplificar o que já foi dito, farei um estudo de 2 casos de incêndios florestais de curta duração na cultura do cedro australiano. Com 6 e 4 anos respectivamente, o primeiro caso ocorreu em agosto de 2010 em uma pequena área plana, pulando de um valo para a bordadura e o outro em fevereiro deste ano, com o fogo passando do pasto do vizinho para a área plantada em um morro. Em ambos os casos havia pouca cobertura vegetal, a braquearia estava seca, com pouca umidade e os incêndios foram criminosos. Diferentemente do eucalipto que tolera pequenos incêndios, as plantas de cedro australiano atingidas sentiram bastante com a ação do fogo sendo que as duas situações evoluíram de forma bem semelhante. A casca afetada mudou de coloração, sendo que até a semana seguinte as copas de quase todas as árvores já haviam secado e perdido a folhas. Isto ocorreu principalmente devido a interrupção da seiva e não apenas pelo calor gerado pelo incêndio. Com menos de um mês após o ocorrido a casca afetada separou-se da árvore, surgindo rachaduras verticais que deixaram a mostra o lenho da planta. A sucessão dos fatos ocorre com a chegada de coleobrocas presentes nos biomas locais, e como verificado no incêndio de 2010 a posterior entrada de fungos apodrecedores de madeira.

É importante ressaltar que independente da espécie cultivada incêndios florestais não podem ocorrer em áreas de produção. Quando a cultura em questão é uma espécie exótica para produção de madeira para serraria, os riscos aumentam consideravelmente devido ao grande investimento e a falta de conhecimento sobre a cultura. Se você é um silvicultor iniciante ou experiente, lembre-se: o melhor a se fazer é ajudar na prevenção dos incêndios florestais.

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